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FIESP e FIA firmam parceria para formação e capacitação do setor industrial

Os consumidores estão atentos aos compromissos e valores abraçados por empresas e marcas: este é um ponto de atenção também para investidores, pois promove uma mudança no ambiente de negócios. O impulso se dá pela consequência das ações socioambientais e também por constatações científicas sobre os impactos humanos no aquecimento global.

Nesse sentido, os investidores buscam o melhor retorno financeiro de longo prazo, que esteja atrelado à sustentabilidade e alinhado a valores. Os pilares ambientais, sociais e de governança, ou ESG (do inglês Environmental, Social and Governance) são hoje mais do que estratégicos para os negócios em função das novas exigências requeridas pelo mercado. Ou seja, o tema ESG é relevante para a indústria, para a sociedade e o mundo como um todo.

Em virtude desse cenário, a Fiesp, em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA), promoveu a live Rumos do ESG na indústria paulista, na terça-feira (19/10), em função da celebração de Acordo de Cooperação Técnica, entre as duas entidades, para promover a formação e capacitação do setor industrial quanto aos princípios ESG, em especial, as de médio e pequeno porte e sindicatos, no entendimento e implementação de práticas de sustentabilidade, economia circular, economia de baixo carbono, entre outras ações.

Para Nelson Pereira dos Reis, diretor titular do Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS) da Fiesp e do Ciesp, embora o tema não seja novo, ele evoluiu e se consolidou nos últimos dois anos, de modo especial, na agenda do setor financeiro e, por isso, a parceria com a FIA deverá trazer muitos benefícios.

Reis destacou que a casa acompanha as tendências globais com impacto na competitividade devido ao ESG, contemplados nessa agenda, e apresentou o retrospecto da Federação: se em 1973 havia uma comissão de meio ambiente, hoje há o Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS), e ao longo do tempo foram tratados temas como programas de prevenção à poluição (P2), Produção mais Limpa (P+L), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e elaborou o Guia de Produção e Consumo Sustentáveis, em 2015, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Na linha do tempo, em 2003, dez dos maiores bancos – no setor financeiro internacional e responsáveis por mais de 30% do total dos investimentos mundias – lançaram as regras dos princípios do Equador e, em 2005, o secretário-geral da ONU, Kofi Anann, reuniu 20 investidores institucionais em torno de um projeto de investimento responsável, agregado na sigla ESG.

Outro ponto levantado por Reis foi a recente resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN n. 4.945/2021) voltada à política de responsabilidade social, ambiental e climática (PRSAC), atendendo a diretizes globais.  Um relatório da Pricewaterhouse, de 2020, estima que 60% dos fundos mútuos, na Europa, estarão alocados em investimentos que levem em conta os parâmetros ESG até o ano 2025.

Para Reis, o desafio que há pela frente é enorme, mas com parcerias adequadas será possível enfrentar a jornada de retomada econômica global pós-pandemia e os riscos climáticos que se acentuam em frequência e intensidade com impacto na segurança hídrica, energética, alimentar e social. “É uma agenda positiva e nós temos recursos para conduzi-la e ajudar as empresas a se capacitarem e reportar esses avanços. A competitividade muda agora com o ESG, que se torna essencial, e voltado à criação de valor”, avaliou.

Eduardo San Martin, à frente do Conselho Superior de Meio Ambiente (Cosema) da Federação, frisou os temas debatidos no âmbito do Conselho, tais como o uso industrial sustentável da Amazônia, a Economia Circular, o Acordo de Paris, a gestão ambiental nos municípios, a educação ambiental, hoje incorporada no programa educacional do Sesi-SP. E mais, reciclagem e logística reversa, a relação entre poluição do ar e saúde humana, a qualidade das águas e o reúso, a segurança de barragens, a geração de energia a partir de resíduos, a evolução dos biocombustíveis e dos veículos elétricos, a gestão dos resíduos sólidos e sua bitributação e lembrou, também, que o marco do saneamento básico passou pelas discussões da casa.

Já Grácia  Fragalá, diretora titular do Comitê e Núcleo de Responsabilidade da Fiesp e do Ciesp (Cores e NRS), essa agenda se fortalece e vem se consolidando. “É interesse maior dos investidores que as empresas invistam nas comunidades do seu entorno e nos seus próprios colaboradores, o que irá repercutir em seus relatórios e obter destaque”. Práticas voltadas à saúde e bem-estar, trabalho versus vida pessoal, programas materno-infantil, empresa-cidadã, por exemplo, são contempladas nessas iniciativas.

“Na Fiesp, apoiamos as empresas que desejam criar ou incrementar as práticas ESG com eventos on-line e publicamos guias de boas práticas investimento social corporativo, pensando na maior competitividade e sustentabilidade das organizações empresariais. Ela citou a mentoria Elas na indústria, voltada à inclusão em operações industrias, em postos de liderança, realizado em parceria com o Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo (Sindratar), e o apoio às mulheres empreendedoras, como o Beleza Negra, com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abiphec), disponível para empresas e sindicatos.

Rafael Cervone Netto, 3º vice-presidente da Fiesp e do Ciesp, “o ESG não é uma tendência, já está acontecendo e atrelando bônus a executivos”, afirmou ao tratar da realidade nos negócios, com mecanismos de ajuste de taxa de carbono nas fronteiras, por exemplo. Para ele, os princípios devem estar no core business das empresas e o Acordo deve ser prioritário para a entidade, pois altera a realidade das empresas e tem relação com mudanças, no futuro.

Almir Ferreira de Souza, presidente do Conselho Curador da FIA Business School, afirmou que o Acordo entre a maior Federação do país e a FIA, uma das melhores escolas de negócio da América Latina, produzirá resultados, no que considera como um indutor da cultura das empresas e como são avaliadas, a fim de caminhar para uma visão mais abrangente de criação de valor.

Pandemia da Covid-19 e impactos sociais 

Isak Kruglianskas, coordenador do Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (Progesa/FIA), frisou que o objetivo é conjugar esforços com os fatores ESG e garantir que a empresa seja socialmente responsável e consiga demonstrar essas ações em variáveis mensuráveis. “As agências de classificação de ESG constituem um fenômeno novo e crescem por conta da expansão do mercado imobiliário e da regulamentação no âmbito de governança corporativa.

Ao avaliar que a pandemia gerou uma crise de longo alcance, Kruglianskas reforçou que uma resposta corporativa robusta deve passar pela revisão de prioridades e pelo escrutínio público de áreas-chave do ESG, e considerar fatores como o desenvolvimento da empresa, capital humano e resiliência, o que acarretará maior interesse por parte dos investidores. “A Covid-19 demonstrou que o nexo entre desempenho corporativo e bem-estar social nunca foi tão necessário”, avaliou.

Mônica Kruglianskas, head de Sustentabilidade do Progesa/FIA, enfatizou que o Acordo irá permitir que empresas e profissionais se atualizem e aprofundem o conhecimento sobre o tema e suas métricas, contribuindo para a inovação de processos e produtos a fim de regenerar o sistema econômico, que opera além dos limites suportados pelo planeta Terra. A docente também enfatizou a importância de se debater o tema em função da proximidade da COP26, sendo que os integrantes do G8 [sigla para os 8 países mais ricos e influentes do mundo: EUA, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia] são responsáveis por 92% das emissões de CO2 e o Brasil se encontra em uma área que sofre fortemente esses impactos globais.

Ele também lembrou que há um gap de quase US$ 4 trilhões de investimentos, somente na próxima década, para que se cumpram os compromissos acordados em Paris e ainda distante de serem cumpridos. “A pandemia acentuou esse cenário, com a emissão por parte das economias emergentes de fontes poluidoras, como o carvão, e contribuiu para o registro do 2º maior aumento de emissões na história”, disse, sendo necessário aumentar as ambições e os países mais ricos desbloquearem os recursos financeiros. A agenda ESG é uma das formas encontradas para ranquear esses investimentos e a tendência é de uma convergência para a tomada de decisões dos investidores, afirmou, em sua conclusão.

Exemplo da indústria: Suzano 

Walter Schalka, presidente da Suzano Papel e Celulose, tratou das novas exigências do mercado. Para ele, o G (Governança) é relativo a cada uma das empresas, mas o E (Ambiental) e o S (Social) são impostergáveis, pois temos responsabilidade com as futuras gerações.

Para alcançar o limite de elevação da temperatura na casa de 1,5ºC, segundo os cientistas, e não gerar desequilíbrio irreversível, “só temos licença para emitir 500 gigas de tonelada de carbono e hoje estamos emitindo 55 gigas por ano. Assim, atingiremos esse limite em dez anos. Ou seja, não dá para esperar alcançar o NetZero (a neutralidade do carbono) em 2050”, alertou.

Para ele, é preciso trabalhar em um mercado regulado de carbono, no sistema cap and trade, onde as empresas que emitem mais comprem daquelas que emitiram menos. “Esse será o maior incentivo ao investimento para a descarbonização global, atendendo ao Capítulo 6 do Acordo de Paris, que deve ser regulamentado agora na COP26”, em Glasgow, Escócia, apontou o debatedor.

Outro fator essencial apontado por Schalka é reduzir o desmatamento na Amazônia, com comando e controle, e o cumprimento da lei, pois “97% do desmatamento é ilegal, além de resolver a questão social dos 25 milhões de amazônicos. Essa ação, conjugada com menor emissão de carbono, renderá ao Brasil, no mercado regulado, US$ 10 bilhões ao ano.

Schalka também apontou a disparidade social existente na distribuição de renda global, que vem se agravando, e é preciso diminuir essa diferença e promover melhor inclusão da diversidade na economia global e nas empresas, conforme apontou, e afirmou, categórico, que não é momento mais de discutir diagnóstico, mas partir para ações de curto prazo.

Ao tratar especificamente das ações da Suzano, revelou que a empresa é sequestradora líquida de carbono. “Em 2020, a empresa sequestrou 18 milhões de toneladas de carbono e emitiu 3”, contabilizou, fator que se soma ao plantio de 650 mil árvores/dia. Outras ações dizem respeito aos programas sociais em comunidades carentes com o objetivo de tirar da pobreza 200 mil pessoas, nos próximos anos, com vistas à geração de empregos e renda sustentável, mais a educação de 100 mil crianças a fim de aumentar em 40% a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), nos próximos dez anos. Outras metas lançadas são colocar 30% das mulheres em cargos de liderança, em 2025, e reduzir o consumo de água.

O presidente da Suzano Papel e Celulos frisa que o ESG já está implantado na empresa e avisa “que transformar sustentabilidade em dinheiro não é custo; é recurso” e que, quanto à cadeia produtiva, os pilares social e ambiental são colaborativos, uma agenda conjunta que seja na mesma direção, dentro da nossa obrigação de transformação em um mundo com 8 bilhões de habitantes, ou seja, não é competitiva.

BNDES e o ESG

A retomada do crescimento com sustentabilidade foi o tema de Júlio Costa Leite, superintendente da área de Gestão Pública e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ao tratar do posicionamento do banco, disse que se trata de uma jornada e, como banco de desenvolvimento, está focado em ‘puxar’ essa agenda ESG para o setor financeiro, após a entidade ter incorporado a sigla em sua missão e visão. Leite lembrou que os impactos da mudança climática e socioambiental reverberam no negócio das empresas e é preciso estabelecer mudanças. “Hoje é importante viabilizar soluções, não só em termos de crédito, mas que acrescente investimento em desenvolvimento sustentável”, afirmou, e citou o fato de, em sua história, o BNDES ter criado um funding não reembolsável voltado a temas socioambientais, abastecido por um ‘pedaço’ do lucro do banco.

“Somos o maior financiador de energia renovável do mundo”, de acordo com a Bloomberg, conforme citou, com somas que alcançam US$$ 30 bilhões, especialmente em energia eólica, além de ter lançado letras verdes, o green bound, no ano passado, e ser o gestor do Fundo Amazônia.

Segundo informou, há uma série de experiências e produtos que promove essa conexão entre o setor público e o privado, ajudando empresas a caminhar rumo a uma economia resiliente e voltada para o baixo carbono. Nesse sentido, o BNDES apóia, além de energias renováveis, projetos voltados à agricultura de baixo carbono, química verde, biocombustíveis e mineração sustentável. Nesse sentido, o banco criou uma fábrica de projetos para driblar as dificuldades existentes, e há muitas propostas nas áreas de saneamento, infraestrutura e logística e concessão de parques urbanos.

De acordo com Leite, o banco tem acesso a determinados fundings de baixo custo e longo prazo. Também foi credenciado ao Green Climate Fund (Fundo Verde do Clima), organizado com países das Nações Unidas, para investir em projetos que tenham como objetivo a redução de Gases de Efeito Estufa (GEE) e o BNDES também é operador do Fundo Clima, e atua, ainda, no Plano ABC – Agricultura de Baixa Emissão de Carbono.

Quanto ao mercado de carbono, Leite enfatizou que o tema está em pauta e, no Brasil, vigora o mercado voluntário, não o regulado, mas o Projeto de Lei n. 528/2021, em discussão no Congresso Nacional, trata da regulação na forma de cap and trade. Além do mais, o Banco Central emitiu, em setembro, quatro normativas novas sobre o financiamento dos bancos dado às empresas, ancorados em aspectos climáticos e ambientais.

Para concluir, o representante do BNDES observou que micro e pequenas também sentirão os reflexos da adoção dos princípios ESG nas grandes, em movimento de cascata, na medida em que as exigências são maiores para os seus fornecedores e há um novo consumidor preocupado com o tema, o que irá impulsionar a adaptação de todos nós.

Fonte: FIESP

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